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quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Um conto futurístico

A história de Cida e Cícero
Hoje Valéria vai às compras e precisa deixar o filho de dez anos com Cida, o último modelo de robô doméstica, todas as mulheres desejam uma robô igual. Cícero, o robô mais velho de Valéria tem que cortar a grama, limpar a piscina e lavar os carros que estão imundos, já foram feitos muitos “updates “ nele , ele quebra o maior galho. Cícero e Cida nunca erram as tarefas que eles têm diariamente, quando Valéria precisa de qualquer coisa a mais é só dizer e pronto. Carlos, o marido de Valéria viaja muito e ela precisa de dois empregados de confiança para os afazeres domésticos pois sua vida é muito agitada. Valéria se despede de Caio, seu filho e sai. Quando retorna à tardinha, Cícero vem trazendo o carrinho para levar as compras para Cida armazenar. Valéria então toma um banho morno em sua banheira de hidromassagem e desce para jantar com Caio, Carlos chega só no dia seguinte. Caio sente falta do suco e chama Cida que sempre atende imediatamente, mas Cida não aparece, é muito estranho, ela ainda está na garantia, é a última palavra em robótica como pode ter um “bug”, pensa Valéria. E Caio vai até a cozinha pegar o suco, quando ele vai chegando na cozinha, ouve barulhos estranhos como de risinhos, mas isso é impossível, Cida e Cícero não são humanos, como podem achar graça de alguma coisa? O menino assustado caminha na ponta dos pés e espia atrás da porta entreaberta, Valéria já estranhando a demora do menino chama Caio, Cida percebe que algo está acontecendo e vê Caio entrando na cozinha, logo pega o suco que estava pronto e o leva até a mesa do jantar. Quando Cida deixa os dois a sós Caio comenta com a mãe o que viu, Valéria fica pasma, os robôs não foram programados para ter senso de humor, será que a inteligência artificial deles estava tão avançada? Valéria esquece o fato e segue sua vida normal, porém ela começa a perceber mudanças no comportamento de Cida e Cícero, parece estarem cochichando telepaticamente às vezes, ficam se olhando um tempão com expressão de bobos, sim, porque Valéria faz questão de comprar sempre as últimas versões de robôs tanto para sua empresa, como para o seu lar e para ela é fundamental ter robôs com expressões semelhantes às de humanos. Seus dois robôs domésticos são importados do Japão e podem ser configurados para serem poliglotas, e isso é uma vantagem para Valéria que tem uma vida social e profissional intensa e recebe em sua casa muitos estrangeiros, principalmente em jantares de negócios. Ultimamente Valéria percebia que Cida estava sempre com um ar de riso no rosto, mas ela não estava achando tempo para levar Cida na assistência técnica, e depois talvez fosse impressão dela. Uma certa noite Carlos chegou em casa, e Cícero como sempre foi logo buscando suas malas, era já madrugada e Cida deveria estar no “modo de espera” na área de serviço até às seis da manhã quando ligava para fazer o café. Entretanto nessa noite Carlos viu Cida olhando as estrelas no jardim, ele foi até o jardim e chamou por Valéria, pois para Cida estar ligada aquela hora só podia ser porque Valéria estava acordada e solicitando os serviços dela. Mas Valéria não estava lá e Carlos ordenou que Cida ficasse em ‘’stand by “, e ela foi imediatamente até a área de serviço e cumpriu o comando de Carlos. Cícero estava se atrapalhando com coisas bobas, assim como os humanos fazem quando estão atordoados. Valéria e Carlos então conversando chegaram a conclusão que não era normal os dois robôs de versões diferentes estarem com o mesmo problema, eles deveriam estar interagindo entre si ou com algum outro sistema que estava contaminando eles, como um vírus talvez. E no meio da conversa aparece Caio correndo e diz para os pais que viu Cícero e Cida se abraçando, os três foram até a cozinha onde estavam os robôs e constataram tal fato, a verdade é que os dois robôs estavam apaixonados um pelo outro. Enquanto eles cultivassem esse sentimento agradável estava tudo bem mas Valéria começou pensar, e se ela precisasse de mais uma robô, será que Cida iria desenvolver o sentimento de ciúmes? E se os robôs começassem a ter sentimentos ruins seria seguro tê-los em casa? O casal decidiu comunicar o fato ao fabricante dos robôs que simplesmente falou: _ Meus senhores, a inteligência artificial na fase em que está não tem mais volta, o que eu posso fazer é formatar os dois e instalar uma versão mais antiga para eles, porém vocês sabem, eles não serão tão eficientes. Mas a família de Valéria já estava escrava de tanta mordomia e decidiram deixar os robôs como estavam. Às vezes Cida colocava música e ela e Cícero dançavam, porém nunca deixavam de realizar suas tarefas e sempre atendiam imediatamente o chamado dos donos que iam ficando cada vez mais dependente dos serviços deles, afinal com robô não se tem problemas com ações trabalhistas, eles não reclamavam e não se metiam na vida da família, mas até quando? Assim como a família de Valéria muitas outras já estavam completamente dependentes das governantas robôs que tinham o poder de comandar todos os sistemas da casa. Algumas pessoas sem notar estavam obedecendo ordens de seus robôs, os robôs já ocupavam a maioria dos postos de trabalho aumentando cada vez mais o número de desempregados, mas Valéria nem queria pensar no que podia acontecer se houvesse uma revolta entre humanos e robôs, e se os robôs domésticos fossem os primeiros a se rebelar contra seus donos e os matassem?Quer saber disse Valéria ao marido, não quero mais saber de Cida e Cícero em nossa casa, vamos formatá-los e vendê-los e vamos contratar pessoas de carne e osso para trabalhar conosco. E assim Cida e Cícero foram formatados de mãos dadas com olhar triste de adeus.
Autora: Lauren Brocardo R. Milán

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